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sábado, 10 de maio de 2008

De multiculturalismos e retrocessos

X Congresso Internacional de Cidades Educadoras - 3. dia

O sábado, último dia do evento, demonstrou ser o mais rico em termos de tensões e discussões. Houve duas mesas: pela manhã, a Conferência principal sobre o tema "Construção de cidadania e cidades multiculturais" e no início da tarde, antes do encerramento, outra mesa: "Cidades Educadoras na era das redes sociais distribuídas".

O grande debate ficou por conta da primeira mesa, que tratou da relação das Cidades Educadoras com o multiculturalismo. A polêmica se estabeleceu após a bonita conferência trazida pelo professor José de Souza Martins, sociólogo da USP, que tratou do multiculturalismo sob a ótica da ocupação dos territórios da cidade por seus personagens mais diversos. Para ele, o multiculturalismo permite "reconhecer-se como cidadão do mundo". E dentro disso, o respeito 'a identidade e diversidade, levando-s em conta os direitos dos cidadãos.
O jornalista e geógrafo Demétrio Magnoli deu o tom ao discutir o fato de que em nome de uma proposta multiculturalista, muitos governos têm se servido dela para gerar fatos de intencionalidades duvidosas, tornando-se instrumento político das políticas neo-coloniais.
Ele argumentou que em nome da diversidade e do multiculturalismo, tem-se, em muitos lugares, criado condições para que minorias sejam representadas em seus interesses. Lembrou o caso da Bolívia, no qual o governo propôs mudanças na constituição para resguardar a etnias históricas o direito ao subsolo - atualmente inalienável e cujos recursos possuem restrições de comercialização. A partir dessa mudança constitucional, segundo ele, antigos mineiros poderão herdar áreas e riquezas do subsolo, o que lhes daria a condição de negociá-las da forma que quisesse. Magnoli classificou este ato, tomado em nome do multiculturalismo e da diversidade, como "um espólio". E explicou que neste caso, os próprios representantes do governo, têm se caracterizado como índios, numa clara alusão a essa representação, cujos próprios interessados não a realizam. E afirmou: "os reais interessados não defendem o multiculturalismo, mas a mestiçagem", daí a nossa crítica ao multiculturalismo.
Situação semelhante tem, segundo o jornalista, passado-se no Quênia, onde há, segundo ele, uma transferência histórica da etnografia colonial para o multiculturalismo. Nesse caso, hoje os defensores do multiculturalismo propõem a realização de censos com base na classificação de etnias, o que geraria, segundo ele, conseqüências políticas, jurídicas, legais com reflexos diretos sobre cada um dos grupos classificados. O fato, segundo disse, é preocupante, por reconstituir uma condição de colonizador-colonizado e de instituir a separação entre os colonizados entre si, que estariam separados por classes etnográficas.
Magnoli se disse preocupado com a proposta multiculturalista da carta das Cidades Educadoras.

O evento transcorreu, ainda, com a realização de fóruns de Boas Práticas, no qual assistimos algumas experiências na Sala Gothenburgo. Infelizmente, a experiência de Salvador, intitulada "Salvador cidade das letras - um recorte Ialodê" não foi apresentada. Assistimos a experiências interessantes:
Santo André (SP) - Mídia, tecnologia e inclusão digital nas escolas municipais de Santo Andre;
Zaragoza (ES) - Quieres ser guia del parque? Projeto voluntarios mayores "guias del parque"
Playa del Carmen - (México) - Recuperacion de nuestras tradiciiones en un mundo globalizado
Almada (Portugal) - O Abraço Solidário: Almada (Portugal) - Kuanza Sul (Angola)
Santa Maria da Feira (Portugal) - Concelho Aberto à cidadania. Neste último, relevância ao trabalho de preparação de jovens ao exercício da governança local, a partir da experiência da eleição de crianças como mini-representantes municipais, por meio de votação aberta entre escolares.

Por fim, no início da tarde, o espanhol David de Ugarte, economista, fundador da Sociedad de las Indias Eletrónicas, apresentou conferência intitulada: "Cidades Educadoras en la era de las redes sociales distribuídas". Tratou do processo evolutivo das redes, desde seu aspecto centralizado, descentralizado e agora distribuído, o que faz com que aqueles como acesso a ela tenham ganho um poder de ser emissor de informações, não só receptor. A conferência foi curta, mas instigante.
David de Ugarte lançou recentemente o livro "O Poder das redes", pela EdiPUCRS.

'A noite, os congressistas puderam acompanhar a "Virada Cultural" de São Paulo, assistindo a alguns shows: Cesária Evora, capoeira, apresentação de sambas e música clássica.

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